A Nau Santa Maria de Colombo, atracada no cais com ar imponente, era a anfitriã de quem tinha optado por uma manhã diferente. A fazer lembrar as embarcações do tempo dos descobrimentos, com tripulação a condizer que dava as boas-vindas, Santa Maria soltou as amarras e fez-se ao oceano. Para trás deixou terra, um anfiteatro de casas brancas cobertas de telhas vermelhas, com cantarias em basalto e portadas em verde-escuro; muitas árvores espalhadas entre as casas e um aglomerado de arvoredo nas bancadas de topo, penduradas nas brandas e ligeiras nuvens opacas.
O sereno mar, azul-escuro como nunca vira, facilitava o deslize pela sua acalmia, sem boicotar a boa-disposição dos turistas.
Uns espanhóis, de voz afinada e mãos em batida compassada, animavam os viajantes com os seus cantares tradicionais.
De repente, todos pararam e dirigiram o olhar para estibordo. Eu não via nada de extraordinário, até que um ténue repuxo saído das águas me alerta para a presença de uma baleia. Ainda vislumbrei a cauda ao enfiar-se no oceano. Velozmente nos deixou e retomou os seus afazeres quotidianos.
De olhos postos no mar, contemplando a sua infinitude, dou conta do rasgo no horizonte feito pelas Desertas e pelas Selvagens, ali entre céu e mar a confundirem-se com as nuvens esfarrapadas. É nesse instante que mal posso acreditar no que os meus olhos me asseguram: golfinhos, golfinhos… olha dois ali, olha mais um… ali ao fundo… olha na direcção da minha mão… lindos! A emoção alvoraçou-me de tal forma que o Francisco comentou: “Estás histérica, mamã! Vais pôr isto no blog, não vais?” A verdade é que o sentimento era geral. Enormes sorrisos de contentamento enfeitavam as faces de todos os que eu via de soslaio e a excitação de poder registar os mergulhos nas máquinas fotográficas denunciavam a efervescência do estado de espírito. Eram imensos golfinhos ruazes, que se deslocavam ao largo da Madeira. Não são residentes, mas nem isso os inibiu de se mostrarem a curiosos humanos que vibraram com a sua aparição.
A jornada continuou.
Visitámos a embarcação: um quarto, uma capela, um bar. Um pequeno cão-marinheiro, um papagaio e uma arara fizeram as delícias dos mais novos.
Chegados ao Cabo-girão houve permissão para banhos. Os mais afoitos atiravam-se da proa, ou da ré, os mais cautelosos preferiram descer por uma escada. Todos nadaram em águas límpidas e mornas que, vistas de cima, se exibiam em tons de azul-turquesa.
A costa escarpada e praticamente deserta deu-nos uma ideia de como a ilha era quando foi descoberta: uma enorme rocha emergida do oceano.
De regresso, provámos vinho da Madeira e bolo de mel embalados pelo movimento da deslocação. Mais palmas e cantares espanhóis. Mais mar azul-escuro. Mais infinito. Mais encanto. Os golfinhos não voltaram. O aprazimento interior também não o exigia.
Mais uma boa recordação.
2 comentários:
Olá, olá. Já cá estou novamente depois de uma ausência banhada de sol algarvio.
Já estava cheia de saudades do teu blog. Beijos
Que dia maravilhoso e que experiência fantástica, para a mãe com coração cheio de entusiasmo de criança e para o seu ninho. Os golfinhos têm esse efeito em nós, mesmo quando só os vemos em shows altamente treinados ao som de apitos e palmas, por entre peixes-recompensa. Continuem a apreoveitam. Bjcas
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