sábado, 31 de março de 2012

Arte diferente

Há que tempos que fui a uma exposição magnífica no CCb, Museu Berardo e parece que só agora é que vou mostrar algumas fotos.
Vik Moniz é um artista do nosso mundo: original e suspreendente. São estas as duas características que resumem os seus trabalhos. Senão vejam, o que ele fez com comida, lixo e outros materiais improváveis.
Com ketchup e esparguete:

Com lixo:

Em pormenor:

E estes? Tentem adivinhar...

Com soldadinhos de plástico (agora em pormenor):

segunda-feira, 19 de março de 2012

Nas malhas da (in)justiça

Melissa nasceu de uma mãe adolescente, em Cabo Verde e quis a vida que crescesse com os avós paternos, que a trouxeram para Portugal.
Ainda de tenra idade quando se aprende a ler e a escrever Melissa ganha uma marca visível na cabeça, do que lhe escreveu no coração uma mágoa duradoira daquela avó, que faz de mãe.
Melissa cresceu e chegou à idade, ainda tenra, de quando se aprende a namorar e a mandar em si próprio. É tempo de se acumularem desavenças, discussões com adultos que fazem de seus pais, muito mais nas exigências do que no afeto.
Arruma, limpa, varre, cozinha, lava, arruma, limpa... tem que chegar à hora marcada... ficar com as amigas do bairro? Nem pensar... passear no jardim? Isso é que não... O pior mesmo é quando não cumpre, aí sofre na pele uma tradição antiga de educar à pancada que é a dos seus avós.
Melissa cala, não conta os maus tratos, porque se o fizer, ainda vai ser pior, porque tem uma dívida para com eles, que a trouxeram para Portugal, porque são a sua família, porque lhe dão sustento. Porque Melissa gosta deles. Porque Melissa não quer que nada de mal aconteça à sua avó.
Um dia, porém, as marcas que traz falam por si e nem precisam de palavras. Conta na escola, depõe na Polícia, mostra aos médicos, a assistente social também vê, no tribunal registam-se provas, prestam-se declarações, assina os documentos, depois de se encher de coragem e num grito de Ipiranga avança e fala.
Havia ainda esperança, quando foi possível mudar-se para casa do pai. Melissa recomeçou numa nova família, com irmãos e tudo, casa, escola, cidade nova... não houve tempo, no entanto, para ganhar a pronúncia do norte. Acabou por sofrer aí a pior deceção de sempre, ao experimentar o instinto macho, que um pai não tem, enquanto tal...
Melissa regressa, meses depois, à sua casa, escola e cidade. À sua família, que a recebe e protege. Não é a mesma. Parece mais crescida, equilibrada. Mais madura? Mais triste? Só? Desiludida?
No dia do pai foi chamada a tribunal. Tinham passado 15 meses desde que se fortaleceu da sua raiva, quando achou que a avó merecia castigo. Desamparada de pai, que quer esquecer, hoje a Melissa não disse o que havia para ser contado. Juíza, Delegada do Ministério Público esperavam pela prova final: as suas palavras. Não chegaram, calou-as, absolveu a avó, porque tem uma dívida para com ela, que a trouxe para Portugal, porque é a sua família, porque lhe dá sustento. Porque Melissa gosta dela. Porque Melissa não quer que nada de mal aconteça à sua avó, porque a voltou a acolher. Porque é com quem vive! E se não fosse assim, seria pior...
A sua mãe continua a vender peixe em Cabo Verde. Melissa continua a querer trazê-la para Portugal. Quer ser advogada...