terça-feira, 25 de agosto de 2015

Moçambique - pela estrada fora

É impressionante a forma como se transportam pessoas e mercadorias pelas estradas de Moçambique. Além de ser um perigo para os diretamente envolvidos, quem circula por perto também se vê ameaçado pela negligência.
A verdade é que é de uma normalidade, vulgaridade que assusta quem não está habituado a estas coisas. É muito fácil encontrar cargas muito tortas, inclinadas a parecer que se desmoronam a qualquer momento, cargas pesadíssimas que forçam a suspensão do carro brutalmente, cargas muito diversificadas amontoadas e protegidas por colchões de cama, dos lados, cargas altas com pessoas em cima. Cheguei a ver camiões cheios de madeira com cabrinhas em cima (aparentemente soltas) e chapas (carrinhas de transporte de pessoas) com sacos de farinha (10 ou 20kg) em cima, sem qualquer preocupação, apenas colocados em cima da carrinha.
As fotografias mostram um bocadinho o que fui vendo. A qualidade é medíocre, pois foram todas tiradas em andamento, muitas vezes já o sol se tinha posto, mas acho que são elucidativas.













sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Arquitetura em Maputo

(Não sou de todo entendida na matéria, apenas aprecio o que vejo.)
Ao circular de carro pelas ruas de Maputo deu para perceber como esta cidade foi bonita, grandiosa mesmo. Há edifícios completamente degradados e abandonados, palacetes autênticos com pormenores de uma beleza que se salienta do todo em ruínas. Há outros em uso mas sem a manutenção necessária para garantir o seu charme. Mesmo assim, ainda se encontram alguns conservados que nos fazem parar e merecem uns cliques fotográficos.
No outro dia vi um edifício que me chamou a atenção pelas características modernistas e depois, em conversa com quem vive cá há algum tempo, percebi que é uma das várias obras do arquiteto Pancho Guedes. Não o conhecia, pesquisei um pouco e vi como deixou marcas nesta cidade. Há alguns exemplares que o testemunham, mas não consegui encontrar alguns e sei que outros até foram demolidos.
Há marcas evidentes de modernismo aqui e ali, em alguns casos camufladas de degradação, escondidas por trás dos muitos carros estacionados e perdidas no meio de gradeamentos de janelas e varandas. 
Pormenores de Arte Nova vão alindando as vistas nas ruas esburacadas e empoeiradas, sejam pequenos painéis de azulejo, mosaicos que parecem pinturas nas paredes laterais dos prédios, os recortes das varandas, adornos geométricos... 
Deixo algumas imagens elucidativas

(De Pacho Guedes, em cima)






Painel em mosaico, de Gustavo de Vasconcellos (brasileiro) num prédio do arqº. Alberto Soeiro. Este foi mandado construir para instalar a TAP, em 1960 (ainda legível o painel publicitário - "A Linha Portuguesa") Mais tarde, juntou-se também o Banco Montepio de Moçambique, depois da independência foi nacionalizado e é onde funciona agora o Ministério dos Recursos Naturais.(em cima)


(De repente até parece uma enorme cidade europeia)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Safari no Kruger

A vantagem dos safaris organizados é que circulamos por caminhos onde não vamos com o nosso carro e porque nos aproximamos mais dos animais, além disso, como comunicam entre si, os guias podem rapidamente chegar onde se encontram os animais que normalmente estão mais escondidos.
No nosso caso, durante os dois safaris (do fim da tarde e do início da manhã) não vimos nem leopardos nem leões, mas observamos de muito perto elefantes, búfalos, rinocerontes, girafas, hienas e zebras (claro que impalas, gnus, gazelas já se tinham tornado corriqueiros). Acabamos por avistar furões, águias, corujas e uma cobra e a experiência de andar no jipe sem janelas e a adrenalina de saber que o leão passou por ali horas antes, segundo análise de pegadas e de dejetos deixados foi fantástica.
O safari da manhã foi marcado pelo nevoeiro, o sol nasceu mas custou a dissipar a neblina o que dificultou a vista e arrefeceu e molhou a manhã já fresquinha. Valeram-nos os ponchos disponibilizados no jipe e um saquinho de água quente para colocar no colo e aquecer as mãos.
Nestes safaris também paramos para tomar uma bebida e conhecemos os viajantes com quem partilhamos o transporte e também o jantar servido logo depois. Connosco iam um jovem casal de San Francisco, US e uma família holandesa (pais, uma menina de 11 anos e um rapaz de 9) que, imaginem, estão a viajar durante um ano.








Vestígios de rinoceronte que arrasta os pés ao deslocar-se

Kruger Park - uma aventura na Savana

De Marloth Park ao Kruger não é longe, aliás são parques vizinhos.
Dentro do Kruger ainda tínhamos muitos km a fazer até chegar ao Imbali Safari Lodge onde ficaríamos alojados uma noite e teríamos dois safaris organizados por caminhos onde não se pode circular de outra forma.
Animalizinho aqui, bicho ali lá andávamos na esperança de encontrar mais girafas, elefantes e zebras que ainda não tínhamos visto.
As impalas, os gnus rapidamente se tornaram rotina. A animação aumentava à medida em que víamos mais exemplares de girafas e quando uma atravessou a estrada mesmo à nossa frente parecia que tínhamos o dia ganho. Os elefantes lá longe fizeram as primeiras delícias, mas depressa ficamos mais exigentes quando era fácil avistar comunidades inteiras destes enormes bichos. O elefante africano é o maior e pudemos testemunhar essa enormidade.
As zebras também se deixaram ver e fotografar muito bem e apesar da nossa presença, mantiveram o seu ar calmo e contemplativo.
Logo no início, talvez meia hora depois de entrar na porta da Crocodile Bridge, dá-se o inesperado. Alguns carros encostados à berma são pronúncio de novidade no mato, mas como estávamos no início, ainda havia muito parque para ver e longo caminho a percorrer, em vez de nos determos por ali e tentar perceber o que fazia parar tantos carros, acabamos por passar sem dar importância até percebermos que se tratava de um leopardo... Lindo! Imponente, metido com ele próprio! Quando ultrapassamos os carros, já o felino estava a passar por nós em sentido contrário. Ainda o vimos de frente, de passagem e só houve tempo para gritar "é um leopardo!" A I ainda tirou uma foto à pressa meio tremida. Viríamos a saber que esta fora a derradeira oportunidade. Soubemos depois que tivemos uma grande sorte.
A riqueza ao nível das aves também foi percetível desde logo. Pássaros coloridos, variados e abundantes também mereceram alguns cliques fotográficos.
Já me ia esquecendo, à entrada do parque ao passar a ponte que da nome a essa porta uns crocodilos e uns pachorrentos hipopótamos deixaram-se observar, apesar de bem camuflados.




Marloth Park ou o vizinho do Kruger

O Marloth park é um espaço de férias, situa-se numa margem do Crocodile River (na África do Sul)  e por ali fazem pela vida quatro dos Big Five*, ou seja o leão, o rinoceronte, o leopardo e o búfalo. O elefante é o único do grupo que não se encontra no parque. Todos os quatro estão em espaços devidamente cercados, mas pudemos avistar leoas a apanhar sol com uma cria, num monte de enormes pedras no meio do rio, quase sem água, visto estarmos no inverno, a época seca.
Os outros, como as impalas, os macacos, os javalis, as girafas andam livremente e convivem connosco. Claro que foi uma animação, ver impalas tão perto de nós, pastando tranquilamente com a elegância que lhes é característica, para não falar da girafa que inesperadamente encontramos ali mesmo ao nosso lado, a degustar alegremente as folhas do alto de uma árvore.
É comum ficar alojado em casas de férias, particulares e foi o que aconteceu connosco. Fomos recebidos pela Marianne e pelo Dani, um casal simpaticíssimo, mas infelizmente só ficamos uma noite, pois o Kruger esperava por nós. Tivemos pena de não poder usufruir da casa onde ficamos. Tinhamos ótimas condições para de passar um fim de tarde fantástico, preparar um churrasco, tão típico da África do Sul. 
Excelente para quem vive/está em Maputo e quer passar um fim de semana fora, sem percorrer muitos km.
*os Big Five são os 5 animais mais difíceis de caçar a pé, pelos riscos que a sua caça envolve. Vulgarmente as empresas de safaris também se referem aos Big Five e até as notas sul africanas os exibem.




quinta-feira, 13 de agosto de 2015

De Chizavane a Inhambane

Mais 300km pela Estrada Nacional 1, mais uma longa viagem.
O cenário no início da viagem foi semelhante ao que assistimos no dia anterior: estradas emolduradas sobretudo por crianças no seu percurso escolar e coloridas pelos panos que se deslocam amarrados às cinturas e às cabeças das mulheres que vão e vêm.
E a quantidade imensa de escolas que se encontram ao longo da estrada?! São mesmo muitas, sejam EPC (escola primária completa) ou secundárias. Passamos por uma profissional, por centros de formação de professores e por uma escola superior de turismo já em Inhambane.
Mas a animação maior acontece quando passamos numa zona mais urbana (se é que posso utilizar este adjetivo), onde há mercados e um frenesim estonteante. Mulheres sentadas no chão a vender fruta, a vender legumes, a vender peixe; bancas de roupa, em muitos casos, usada; um pano no chão com sapatos usados, ou melhor, velhos, sujos e disformes; uma barraquinha de refrigerantes, outra de tudo e mais alguma coisa, como detergentes, produtos de higiene, vassouras, pilhas, sei lá que mais...; a banca das capulanas, a de peças auto, a de colchões, a de raspadinhas para telemóvel (cartões SIM). 
Fora das localidades, pelo mato fora, vão aparecendo, com muita frequência, bancas de fruta, de caju, um cafezinho ou outro e bancas de artesanato (esculturas em madeira e cestos).
A paisagem vai sendo colorida pelas cores das operadoras de comunicação, que pagam a sua publicidade com a pintura dos estabelecimentos comercias. É incrível a quantidade de "lojas" (entre aspas, porque não são de todo aquilo que associamos à palavra) por que passamos e o que é mais incrível é a sua localização. Assim, no meio do nada, aparentemente onde ninguém passa, lá está uma barraquinha publicitando a Vodacom a vender coca colas a 12M (meticais) e outra a vender laranjas ou tangerinas. Mas também deu para perceber que vinda de não sei onde, saída de algures do mato aparece gente de todo o lado para continuar o seu caminho por aquela reta sem fim que é a Estrada Nacional 1 nesta zona de Moçambique.
O que também me surpreendeu foi o facto de haver sempre um Salão de Beleza (leia-se barbeiro ou cabeleireiro) nestas áreas comerciais. 
(Fotos tiradas em andamento)
O percurso escola-casa-escola


Uma escola



Uma das zonas comerciais



As mulheres que se deslocam ao longo da berma


Praia de Chizavane

Uma banhoca no Índico era intenção de peso e a primeira oportunidade foi na praia de Chizavane. Chegamos ao resort de lodges, como se diz por aqui, e demos com a nossa casinha mesmo em frente ao mar (com uma duna pelo meio). 
Já era tarde, tendo em conta que anoitece às 17.30h e acabei por ter apenas tempo para uma caminhada à beira mar na companhia do meu homem e de centenas de caranguejos atarantados com a nossa presença. Ora fugindo para o mar ora escapando-se por buracos na areia os bichinhos animaram o fim de tarde.
No dia seguinte mais uma caminhada na areia, pezinhos na àgua e... Nada mais. Apesar da temperatura agradável para a época (aqui é inverno) estava imenso vento, algumas nuvens... Não tive coragem.
Foi ótimo estar naquele lodge em cima da praia, dormir com o som das ondas e claro, molhar os pés no Índico. Nada disto interessou muito aos miúdos: os amiguinhos de 4 patas que encontraram acabaram por ser a atração principal.





quarta-feira, 12 de agosto de 2015

De Maputo a Chizavane

250 Km pela Nacional 1, quase 4h.
Assustava o tempo de viagem, mas a verdade é que houve sempre tanto que ver que o tempo acabou por passar sem nos darmos conta. Eu que sou uma dorminhoca de primeira, não devo ter dormido mais que 15m para não perder pitada.
A estrada é reta e tem bastante trânsito. Veem-se muitos chapas (carrinhas que em Portugal são de nove lugares, mas que aqui levam em média 15 passageiros) e carrinhas com grandes cargas. Os chapas vão parando, aparentemente ao acaso, para pegar pessoas que os esperam à beira da estrada.
Durante todo este percurso de cerca de 250 Km, não passaram 500m sem avistar peões que se deslocavam na terra batida que ladeia a estrada ou aproveitando algum alcatrão que sobra da via de rodagem. São sobretudo mulheres com panos coloridos enrolados e atados à cintura como se duma saia se tratasse, carregando sacos pretos, ou alguidares com fruta, ou lenha à cabeça e ainda baldes nas mãos. São também crianças. Tantas, tantas, tantas. Há alturas em que a estrada é emoldurada por meninos e meninas com fardas escolares simples e meio desalinhadas que fazem o seu percurso matinal para ou da escola.
Vi crianças tão pequeninas, sozinhas, a pares ou em pequenos grupos, caminhando com determinação nesse seu caminho a direito que as levava a um destino aparentemente longínquo. Vi meninos que aproveitavam a viagem para brincarem, empurrando aros de metal (das rodas de bicicleta) ou carrinhos cujas rodas eram latas de refrigerante ou ainda empurrando-se uns aos outros e rindo, rindo, com um ar de felicidade impressionante, desconcertante. Vi outros, sozinhos, com mochila às costas ou um saco de plástico grosso a tiracolo ou uma bolsa debaixo do braço.
Vi também muitas crianças pela mesma beira de estrada que carregavam lenha, baldes na cabeça, que as suas mãozinhas não conseguiriam segurar e algumas na venda de fruta, de legumes, de caju. 
O sorriso, a alegria no olhar eram os mesmos!

Bo Kaap

Há um bairro na Cidade do Cabo muito conhecido e sempre visitado por turistas devido às cores das casas. Aproveitamos mais um walking tour e lá fomos com o nosso guia maravilhoso.
Realmente o bairro é muito giro com casinhas amorosas pintadas de muitas e variadas cores, em geral cores vivas. 
Trata-se do Bo Kaap ( = acima da Cidade do Cabo) um bairro tradicionalmente de muçulmanos. Os escravos não podiam professar qualquer religião nem usar roupas coloridas, ou vestiam preto ou branco (daí o uso dos tecidos tradicionais africanos com tanta cor). Quando um escavo conseguia a sua libertação havia uma festa com muita cor, com caras pintadas, sendo a cor símbolo de liberdade.
Em 1834 dá-se o fim da escravatura e há uma lei que determina quais as zonas de permanência, atribuindo esta zona aos escravos vindos do oriente, ou que seguiam o Islão. Estes foram pintando as suas casas de acordo com a sua especialização/profissão criando assim uma identidade. A moda pegou e ainda hoje se mantêm. Durante o Ramadão muitos são os que pintam as suas casas.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Cape Town - dia 3

O último dia inteiro na Cidade do Cabo foi passado no centro da cidade, que ainda estava por visitar. Estávamos a pensar fazer o city sightseeing, mas, como já tínhamos estado nos pontos mais exteriores achamos que facilmente poderíamos aceder às atrações centrais a pé e não se justificava o gasto, visto o nosso hotel estar situado mesmo no centro da cidade.
Ainda em casa, descarreguei uma app da cidade que me foi muito útil e que falava da existência de uns walking tours. Achei que os miúdos não iriam ter paciência e nem os mencionei... 
No hotel (depois de nos tentarem vender em vão excursões várias) acabaram por sugerir um walking tour que parte todos os dias do Green Market, a 2min do hotel. Os miúdos concordaram, sabendo q havia sempre a hipótese de abandonar o grupo, caso estivéssemos cansados ou fartos...
Adivinhem? Foi assim a melhor decisão que podíamos ter tomado. Acho que nos calhou o melhor guia in town. A forma pessoal e apaixonada como nos relatou factos da história da cidade/do país encantou-nos e deu-nos uma perspetiva local tão interessante, que nos foi abrindo o coração. 
Fizemos o historic walking tour que parte às 11h e simplesmente adoramos. A cereja em cima do bolo foi quando, na Grand Parade, o guia nos falou do dia em que Mandela discursou pela primeira vez depois da sua libertação para milhares de pessoas, ali mesmo onde estávamos. Ali, onde no dia 11 de fevereiro de 1990, alguns o ouviram pendurados em candeeiros de iluminação publica, o nosso guia resumiu partes do seu discurso, da sua mensagem e comoveu-nos, tal a intensidade com que o fazia. Até tivemos direito a um testemunho na primeira pessoa: um local que ia a passar e que viveu esses dias mais perto de Mandela falou-nos da sua história. Mais: passou uma mensagem muito bonita e sentida a todos os que o ouviam.
A boa notícia do dia é que o mesmo guia ia fazer outro tour, com outro percurso, partindo às 14h, e claro, nenhum de nós quis perder a oportunidade. 
Green Market

The Houses of Parliament


Esta casa foi construída para guardar ferramentas usadas na construção do jardim. Chegou a ser usado para jantares oficiais da presidência. Foi sendo acrescentado ao longo da história.


Eu no jardim


O supremo tribunal com um banco para brancos e outro para não brancos 


A city hall (de onde Mandela discursou após a sua libertação)


O local (Peter Thomas) e o nosso guia, Manny


Memorial aos escravos que edificaram a cidade


Influências holandesas muito visíveis no centro da cidade