quarta-feira, 12 de agosto de 2015

De Maputo a Chizavane

250 Km pela Nacional 1, quase 4h.
Assustava o tempo de viagem, mas a verdade é que houve sempre tanto que ver que o tempo acabou por passar sem nos darmos conta. Eu que sou uma dorminhoca de primeira, não devo ter dormido mais que 15m para não perder pitada.
A estrada é reta e tem bastante trânsito. Veem-se muitos chapas (carrinhas que em Portugal são de nove lugares, mas que aqui levam em média 15 passageiros) e carrinhas com grandes cargas. Os chapas vão parando, aparentemente ao acaso, para pegar pessoas que os esperam à beira da estrada.
Durante todo este percurso de cerca de 250 Km, não passaram 500m sem avistar peões que se deslocavam na terra batida que ladeia a estrada ou aproveitando algum alcatrão que sobra da via de rodagem. São sobretudo mulheres com panos coloridos enrolados e atados à cintura como se duma saia se tratasse, carregando sacos pretos, ou alguidares com fruta, ou lenha à cabeça e ainda baldes nas mãos. São também crianças. Tantas, tantas, tantas. Há alturas em que a estrada é emoldurada por meninos e meninas com fardas escolares simples e meio desalinhadas que fazem o seu percurso matinal para ou da escola.
Vi crianças tão pequeninas, sozinhas, a pares ou em pequenos grupos, caminhando com determinação nesse seu caminho a direito que as levava a um destino aparentemente longínquo. Vi meninos que aproveitavam a viagem para brincarem, empurrando aros de metal (das rodas de bicicleta) ou carrinhos cujas rodas eram latas de refrigerante ou ainda empurrando-se uns aos outros e rindo, rindo, com um ar de felicidade impressionante, desconcertante. Vi outros, sozinhos, com mochila às costas ou um saco de plástico grosso a tiracolo ou uma bolsa debaixo do braço.
Vi também muitas crianças pela mesma beira de estrada que carregavam lenha, baldes na cabeça, que as suas mãozinhas não conseguiriam segurar e algumas na venda de fruta, de legumes, de caju. 
O sorriso, a alegria no olhar eram os mesmos!

1 comentário:

Fátima Lucas disse...

É outro "mundo" mesmo!
Do nada e com pouco, a alegria!
E os nossos "queridos alunos" que tanto reclamam e se entristecem com tanto e tantas oportunidades que têm...