Acordo Ortográfico

(Quando o tempo nos falta para alimentar um blog, servimo-nos dos nossos filhos... Não podia deixar de publicar este texto tão criativo do F.)

Eu não percebo os mais velhos. Se bem eu percebi, no nosso país há muitos desempregados, mas agora chegam aqui alguns homens e decidem fazer milhões de desempregados. Quem? As letras. Querem saber como é que eu descobri isto? Bem, no outro dia estava eu a passar pela rua e encontrei o cê no meio da rua a olhar para o chão e a dar pontapés no ar. Eu perguntei-lhe:
- Então cê, o que é que se passa contigo?
- Já ouviste falar de um tal “Acordo Ortográfico”? – respondeu, perguntando o cê.
- Eu não! O que é isso? – perguntei-lhe.
É um acordo que os presidentes dos países lusófonos assinaram para que a dicção fosse parecida, senão igual à escrita. Depois ainda dizem que há muitos desempregados. Letras de todos ao dicionários, livros, no computador e manuais escolares vão ficar desempregadas.
Apareceram de repente o pê, o hífen, o acento grave e o acento circunflexo e eu perguntei ao pê:
- Então pê, estás bom?
- não, não estou nada bom. Dantes sentia-me sempre óptimo…mas parece que me falta alguma coisa, porque agora só me sinto ótimo! – respondeu ele.
- A mim substituíram-me pelo espaço – declarou, indignado o hífen.
- Olha eu quando fui despedido da palavra pêra, ouvi dizer que se constipou. É bem feito! – informou o acento circunflexo.
- Não se ponham com coisas, que eu ouvi dizer que a segunda feira ficou sem pai: o Segunda-feira. Como se isso não bastasse, acho que ela é anã e nunca vai crescer – avisou o acento grave.
- Pois! E depois despediu-me para descarregar (a raiva…) – exclamou o hífen.
- Sabem o que é que eu vos digo? Vocês podiam arranjar emprego nas palavras dos livros que ainda não foram escritos. – disse-lhes eu com muita calma.
Eles acharam todos uma excelente ideia e lá foram contentes da vida.