quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Maputo - Ponta do Ouro - Maputo

Viajar pelas estradas de Moçambique promete sempre aventura.
Desta vez para sul, os caminhos não desapontaram a expetativa.
Claro, que à volta de Maputo as estradas são normais (segundo os meus padrões), mas entretanto vamos encontrando outros pisos. Parece que "a estrada boa" está para chegar, mas, enquanto isso não acontece, a que serve os viajantes oferece animação.
Uma estrada em construção aparente (digo aparente pelo aspeto, pois encontramos pouquíssimos troços com trabalhadores) ladeava a faixa circulável, mas sempre que possível subimos ao piso mais liso até encontrar ramos atravessados, ou crianças a brincar que impediam a continuação. Fica sempre a questão, "de onde vêm estas crianças?", uma vez que não se avistam habitações num raio ao alcance dos olhos.
Várias vezes encontramos manadas que ocupavam o nosso trajeto. Felizmente que, de tantos em tantos quilómetros, pudemos confirmar o percurso com transeuntes sempre disponíveis e amigáveis.
(na foto vemos a estrada em contrução num nível mais elevados e um simpático guardador de vacas com as respetivas.)


ÚLTIMO TROÇO ATÉ À PONTA


Mas o melhor estava para vir.
A estrada agora encontrada não passava de caminhos areados, com areia muito fina e de difícil circulação. Além do piso propício ao atolamento, o desafio maior era acertar naquele que nos levaria ao nosso destino. Às vezes a escolha fez-se mais pelo estado do terreno do que por outra coisa. Um ou outro caminhante solitário assegurava-nos de que a Ponta do Ouro seria em frente, o que nos dava alento para continuar, apesar de as rodas, em alguns momentos, não rodarem como gostaríamos, tal era a areia na "faixa de rodagem".
(os caminhos do Zitundo até à Ponta)


REGRESSO

Como forma de prevenir, perguntamos, a quem sabe, qual o melhor caminho de volta. Claro que, quando os pontos de referência são postes de eletricidade, antenas de comunicação, bifurcações, subidas e descidas, as indicações de pouco servem a quem é novato nas redondezas.
Sábio foi quem nos respondeu: "Ó amigo, aqui os caminhos são a olho, parece que estamos na Índia!..."
Munidos de tantas recomendações e com a pressão dos pneus a 150, como recomendaram, pusemo-nos ao caminho. Vindo do céu, já sentado à nossa espera estava o Márcio.
Márcio anda na escola na Ponta do Ouro, na 8.ª classe, mas vive no Zitundo, onde só se estuda até à 7.ª. Demora 2h para cada lado, mas garante que vale a pena.
O que o Márcio não imagina é que a boleia que lhe demos foi uma enorme ajuda para nós. No ouvido, fiquei com a sua voz suave, apesar dos seus 13 anos a indicar o caminho, carregando levemente nos "r", "PaRa a diReita". Ainda nos mostrou o posto onde se enchem/esvaziam pneus e retomamos a pressão própria para as próximas estradas. Valeu-nos um medidor de pressão que o pai do Paulo lhe oferecera há muitos anos. Se não a tivessemos, seria "a olho", enchendo e apalpando o pneu, técnica muito utilizada por estas bandas.
Preço total: gratificação ao Márcio + serviço de pneu + gorjeta(4x mais do que o custo do serviço) = 3€
(O Márcio e eu no posto de abastecimento de ar para os pneus, no Zitundo)


DE KATEMBE A MAPUTO

Na ida fomos de carro dar a volta para não atravessar o rio de barco, pois o tempo de espera não compensava.
No regresso usámos o barco para a travessia.
Palavras para quê? Ficam as fotos


2 comentários:

PO disse...

Muito boa toda a descrição da tua aventura. Obrigada por a partilhares connosco! De facto o nosso mundo é muito diferente e por vezes não nos apercebemos disso! Bjinhos e resto de boa viagem.

Fátima Lucas disse...

Já tinha saudades dos teus registos/aventuras e da tua, sempre, encantadora descrição, impregnada de um forte visualismo!
Obrigada