Palmeira, buganvília, hibiscos, cevadilha.
Verde, púrpura, carmim, rosa, azul, azul, azul.
Inclino-me para trás, livro nas mãos e sigo as linhas de dois parágrafos. Olho o mar, um traço certo a separá-lo do céu, longe, longe. A página convida-me. Eu aceito. Três, quatro linhas… e contemplo o azul tranquilo.
Um veleiro balança incansável, balança a cima, a baixo, balança. Deixo-me navegar nos movimentos quase imperceptíveis. Diante de mim, tudo cheio de azul inebriante. Permaneço.
O livro aberto chama-me. Eu não ouço.
Entre um e outro azul, asas estendidas a planar desviam-me o olhar que as acompanha, sem eu dar por isso. Encontro a cadeira altaneira e vigilante do nadador salvador. Está vazia, solitária.
O banheiro alinha as espreguiçadeiras brancas, desocupadas e vira-as para o mar. A Júlia e o André correm atrás dos pombos que debicam migalhas crocantes. Desarrumam o alinhamento de cadeiras, riem cúmplices. Estão felizes.
Sinto a atracção e volto a deter-me no mar. Perduro o meu olhar pelo infinito ali ao meu alcance visual. Fechei o livro, escuto a água. As ondas quebram-se, pintam de branco o contorno da rocha escura, sinto um salpico frio que quase me acorda.
Olhos postos na incessante dança marítima, deparo-me com palavras que se ordenam em orações, se desenham numa caligrafia clara, bem legível e que me ditam o pensamento. Guardo-as, assimilo-as, são uma parte de mim, que partilho ao dar-lhes forma. Carregam emoções que pretendo contagiantes.
Sem relógio no pulso, é a luz baixa, rente à sombra que me lembra de mim.
(Um entardecer tranquilo, inspirador a que ofereço este espaço.)