quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Flores: um Tapete

Flores: Um Tapete para o Senhor (Santana)
Camisa em desalinho e calças sujas eram a roupa de trabalho de um homem, munido de tesoura e baldes que cortava todas, todas! as dálias daquele canteiro. Não eram bem todas, só as que, desinibidas, mostravam as suas pétalas coloridas. O sortido de flores, dentro da mesma espécie, era enorme: as bordeaux, de pétalas enroladindas, a caber na mão em concha, as brancas ou amarelas com pétalas elípticas, compridas e achatadas, e outras cor de sol de aspecto arrepiado sobravam na palma da mão. Todas elas foram separadas de acordo com a cor e forma: três baldes cheios de dálias em flor; um canteiro mais triste.
É por uma boa causa, justificou o jardineiro como resposta ao meu reparo de desagrado.
No dia seguinte quis testemunhar essa causa e o que encontrei foi um deslumbre. Eu, que ando a descobrir um especial interesse por flores fiquei fascinada com o tapete para o Senhor de Santana que muita gente tecia ao longo da estrada onde passaria a procissão.
Quando o jardineiro me informou da festa do Senhor, que teria lugar no dia seguinte, mal podia supor a grandiosidade.
Chegados ao local, encontrámos um estreito caminho de alcatrão preto com uma exuberante passadeira ainda em acabamentos. As cores eram as da natureza, as que as flores quiseram trazer. Os padrões resultavam de combinações infinitas de verdura, ramos, pétalas, pequenas pinhas, folhas, flores, frutos, de acordo com a imaginação e sentido estético de cada um dos decoradores. A diversidade das flores testou o meu conhecimento e pude ir enunciando à medida que passava, durante mais de mil metros: hortênsias, espadinhas, girassóis, dálias, agapantos, gerbéras, buganvílias, coroas imperiais, hibiscos, begónias, malmequeres, brincos de princesa, frésias… Muitas delas improváveis na cor: vi dálias lilases, brincos de princesa matizados de roxo e rosa… A textura verde que servia de base era de pinheiro, alecrim, cameleira, nespereira, feto, buxo e graminha.
Além de todas estas, ainda havia ensiãos,pingos de amor, novelos, não-me-deixes e cevadilhas, que para as enumerar, foi preciso perguntar o seu nome.
Um verdadeiro festival de cor (e de cheiros, segundo me afiançaram o Paulo, a Inês e Francisco).



2 comentários:

Anónimo disse...

impressionante o seu conhecimento sobre a flora madeirense :D

beijinhos para todos

PO disse...

Que espectáculo, que tapete maravilhoso... quanto custaría um para ter à porta de casa, junto aos dois vasos suspensos com Irish Wild Flowers???