terça-feira, 12 de agosto de 2008

Fomos de Nau

A Nau Santa Maria de Colombo, atracada no cais com ar imponente, era a anfitriã de quem tinha optado por uma manhã diferente. A fazer lembrar as embarcações do tempo dos descobrimentos, com tripulação a condizer que dava as boas-vindas, Santa Maria soltou as amarras e fez-se ao oceano. Para trás deixou terra, um anfiteatro de casas brancas cobertas de telhas vermelhas, com cantarias em basalto e portadas em verde-escuro; muitas árvores espalhadas entre as casas e um aglomerado de arvoredo nas bancadas de topo, penduradas nas brandas e ligeiras nuvens opacas.
O sereno mar, azul-escuro como nunca vira, facilitava o deslize pela sua acalmia, sem boicotar a boa-disposição dos turistas.
Uns espanhóis, de voz afinada e mãos em batida compassada, animavam os viajantes com os seus cantares tradicionais.
De repente, todos pararam e dirigiram o olhar para estibordo. Eu não via nada de extraordinário, até que um ténue repuxo saído das águas me alerta para a presença de uma baleia. Ainda vislumbrei a cauda ao enfiar-se no oceano. Velozmente nos deixou e retomou os seus afazeres quotidianos.
De olhos postos no mar, contemplando a sua infinitude, dou conta do rasgo no horizonte feito pelas Desertas e pelas Selvagens, ali entre céu e mar a confundirem-se com as nuvens esfarrapadas. É nesse instante que mal posso acreditar no que os meus olhos me asseguram: golfinhos, golfinhos… olha dois ali, olha mais um… ali ao fundo… olha na direcção da minha mão… lindos! A emoção alvoraçou-me de tal forma que o Francisco comentou: “Estás histérica, mamã! Vais pôr isto no blog, não vais?” A verdade é que o sentimento era geral. Enormes sorrisos de contentamento enfeitavam as faces de todos os que eu via de soslaio e a excitação de poder registar os mergulhos nas máquinas fotográficas denunciavam a efervescência do estado de espírito. Eram imensos golfinhos ruazes, que se deslocavam ao largo da Madeira. Não são residentes, mas nem isso os inibiu de se mostrarem a curiosos humanos que vibraram com a sua aparição.
A jornada continuou.
Visitámos a embarcação: um quarto, uma capela, um bar. Um pequeno cão-marinheiro, um papagaio e uma arara fizeram as delícias dos mais novos.
Chegados ao Cabo-girão houve permissão para banhos. Os mais afoitos atiravam-se da proa, ou da ré, os mais cautelosos preferiram descer por uma escada. Todos nadaram em águas límpidas e mornas que, vistas de cima, se exibiam em tons de azul-turquesa.
A costa escarpada e praticamente deserta deu-nos uma ideia de como a ilha era quando foi descoberta: uma enorme rocha emergida do oceano.
De regresso, provámos vinho da Madeira e bolo de mel embalados pelo movimento da deslocação. Mais palmas e cantares espanhóis. Mais mar azul-escuro. Mais infinito. Mais encanto. Os golfinhos não voltaram. O aprazimento interior também não o exigia.
Mais uma boa recordação.





2 comentários:

Fátima Lucas disse...

Olá, olá. Já cá estou novamente depois de uma ausência banhada de sol algarvio.
Já estava cheia de saudades do teu blog. Beijos

PO disse...

Que dia maravilhoso e que experiência fantástica, para a mãe com coração cheio de entusiasmo de criança e para o seu ninho. Os golfinhos têm esse efeito em nós, mesmo quando só os vemos em shows altamente treinados ao som de apitos e palmas, por entre peixes-recompensa. Continuem a apreoveitam. Bjcas