domingo, 13 de julho de 2008

Amsterdam, 6 a.m.

Cheguei ao aeroporto de Amesterdão com a intenção de visitar a cidade, mas o tempo útil era curto para a visita o que arriscava a minha ida para Cork na hora marcada. Optei por um chá quentinho, na companhia da Jhumpa Lahiri. Os corredores estavam quase desertos e silenciosos, eu cansada... ajeitei a bagagem e adormeci. Acordei quase duas horas depois com o burburinho de crianças a correr, aos gritos e de passageiros, em trânsito, deslocando os seus trolleys ...
Olhei em volta, parecia que de repente assistia a uma convenção mundial de raças e religiões. Estaria a decorrer um jogo de organização em filas? Só podia: numa gate, D4, indivíduos de estatura baixa com cabelo e olhos pretos, pele bem morena, algumas mulheres com lenços na cabeça. Não era aquela a minha fila...
Do outro lado, mantinham-se os rodinhas baixas, mas de pele clara, diria amarela, cabelos lisos, olhos rasgados e que, ao falarem uns com os outros, continuamente inclinavam a cabeça e sorriam. Não... eu também não seria dali...
Ao longo do corredor, vinham, em grupos, exemplares mais escuros de cabelo preto encarapinhado, vestindo roupas largas de cores garridas. Não avistava a fila destes, mas não era a minha com certeza!
Lá está, vou para ali: senhoras com aspecto variado. Serei peça daquele puzzle? Lá fui, era mesmo! Coloquei-me atrás de umas oito. É nestas alturas que gostava de ser homem, nunca há filas para a casa de banho...
Mas o jogo não tinha acabado. Eu tinha uma pista: D18. Preparo-me para fazer boa figura: bagagens, casacos, portátil, tudo na passadeira do RX. Dois passos à frente, sou abordada por uma jovem, que levanta os braços e pergunta, se pode. Claro, porque não? As suas mãos desceram descaradamente pelo meu corpo abaixo, desenrolou-me as mangas da camisa, confirmou o meu soutien... Tive vergonha! A sério! Tanta gente ali, porquê eu?
Sigo em frente recomposta e apresento a minha identificação. Mas que ar de desconfiado... Ora, no desembarque, já tinham analisado o meu BI à lupa (mesmo!) e agora aquela cara... assusta qualquer um! Como se não bastasse, ainda vai confirmar numa lista que está em cima do balcão. Bolas, safei-me!
Depois, então, reparei que esta era a fila dos altos, ruivos, alaranjados, acenourados, ou cor que o valha, de olhos muito claros, pele rosada ou cor de lagosta, sarapintada com muitas sardas por todo o corpo. Pois, eu era um intruso, não admira...

6 comentários:

Anónimo disse...

Amesterdão merece mais do que umas horas por ser uma cidade fora do vulgar. Os canais e a profusão de povos e civilizações não se coadunam com uma breve visita. Há que ficar uns dias. Fez muito bem não ter perdido a magia que um dia terá com a visita à cidade mais diversificada que há na Europa. Guarde a energia para visitar Killarney. Espero que Cork esteja mais bonita e apresentável do que em 2002.

Paulo disse...

Resumo:
duas horas de sono num banco de aeroporto;
ser acordado por gritos e correrias;
ser apalpado(a) por uma segurança do aeroporto (o meu sonho desde pequenino);
suspeitarem do meu BI e olharem para mim com ar desconfiado.

Bem, isto é que é começar uma viagem de forma diferente...

Vantagem:
daqui para a frente vai ser só notícias boas (vou ficar atento).

Fátima Lucas disse...

Ui... Começaste bem... Imagino o constrangimento no aeroporto. (aqui, que ninguém nos ouve... tens um bocado pinta de terrorista...eh eh eh) Beijo

Anónimo disse...

Escala em Amesterdão, lembra-me uma viagem fantástica :D mas nós tivemos tempo para ver os canais, o mercado das tulipas, o mcDonalds lool e ainda andar no comboio em 1ªclasse por engano ;)
só não vimos o red district eheh
beijinhos

Anónimo disse...

Amiga, podias ter melhorado a imagem para a viagem! Esse teu ar ameaçador não engana ninguém. Não disseste logo que o teu marido era polícia? (as crianças usam bastante este argumento, mesmo sem ser verdade).Mas deixa-me dizer-te: no meu regresso de Paris, eu e meu Seborro eramos os only white do avião. Achei que nos tinhamos enganado. Não é que o malvado do avião fazia escala em Lisboa e seguia para Dakar?

João Galvão disse...

Magnifica descrição. Sei bem do que falas, é uma das situações em que me sinto um cidadão planetário. Não sei porque, adoro passear pelas gares dos grandes aeroportos desse mundo a…Ver... Simplesmente a cruzar-me com os outros, que não são mais do que indivíduos desta sociedade, tal como eu.
Tiveste sorte em não te terem tirado os sapatos...lol
A prática tornou-se corrente por estes dias.
P.S.- Isso de adormecer num aeroporto, é que não é lá muito seguro... :)
Quantas horas tinham de transbordo?