sexta-feira, 25 de julho de 2008

No cantinho das fadas

Para a Inês e para o Francisco, de quem tenho saudades

A tarde ainda não ia a meio quando espreitei sobre a cerca. O céu, pintado de tons de azul e pincelado de branco, servia de palco à dança das nuvens, que passavam e deixavam antever o sol tímido. Soprava uma suave brisa e, ao longe, ouviam-se águas em calmo frenesi. Ao lado, uma portinhola baixa, por onde passei inclinando a cabeça. Uma seta branca, numa tábua de madeira indicou-me o caminho e eu fui.
Rodeada de árvores gigantes que me tapavam o céu, segui por ali. Senti uma comichão na palma da mão. Não liguei, mas por pouco tempo. Era impossível ignorar aquelas cócegas e tive que confirmar o que de anormal se passava com a minha mão direita.
Ao desviar o olhar do meu trilho, virei os dedos e aproximei-os dos meus olhos. Nada mais, nada menos: uma minúscula criatura pegava-me pela mão, como se me quisesse levar com ela. Consenti.
Senti um arrepio ao mergulhar na imensidão do verde e, ao mesmo tempo, dentro do meu peito dois lábios alongavam-se e sorriam. Uma sensação única, um sentimento grandioso de felicidade. No meu peito abria-se um sorriso.
Mesmo com linguagens diferentes eu ia percebendo para onde a fada me queria levar. Segui-a e aceitei o convite para brincar. Escorreguei pelas longas raízes que saíam do chão, baloicei nos ramos das árvores mais resistentes, escondi-me entre as gigantescas pedras de um dólmen e pulei sobre a água do lago, desenhando leves círculos na superfície transparente.



Passámos pelas pedras dos druidas e corremos em frente à cozinha das bruxas. Fomos dar à clareira onde todos os gnomos, fadas e seus amigos se encontram para grandes festas.
Subi pela escada dos desejos, um túnel com degraus que me levou ao andar de cima. Era todo forrado de pedra fria mas muito macia (acho que os gnomos também se divertem a escorregar por aquelas paredes...).
Respirei fundo e senti uma enorme vontade de saltar e rir, dar gargalhadas e gritar de felicidade. Voámos sobre os arbustos, por entre os braços das árvores que se desviavam para nós passarmos. Conheci os recônditos lugares onde as fadas dormem e os secretos esconderijos que usam para vigiar os humanos.
Foi detrás de um enorme cogumelo que a minha amiga me avistou, disse-me depois que me ouvira a chamar por ela...
Envolta em magia, virei o pulso da minha mão esquerda e olhei para o relógio. Eram quatro horas! De repente pensei, onde estaria aquela portinhola por onde eu tinha entrado. Nunca mais encontrei a minha simpática companheira. (Gostava de ter tirado uma fotografia com ela, para vos mostrar.) Levantei a minha mão direita, rodei-a e fixei nela o meu olhar. Eu segurava entre os dedos um trevo da sorte...







Corri para casa para escrever a maravilhosa e inesquecível experiência que vivi. Agora solta-se uma lágrima...

3 comentários:

Paulo disse...

Obrigado por teres escrito sobre este teu fantástico passeio.
Tenho a certeza que os miúdos irão adorar e ficar muito contentes com a descrição da tua aventura.
As fotos estão muito apelativas e só foi pena não teres tirado nenhuma com a fada, mas aquela que ela te tirou está muito boa.
Guarda esse trevo de quatro folhas porque está realmente a dar-te a "sorte" da alegria e da felicidade.
Estamos com muitas saudades de estar contigo e ouvir e ver o álbum completo da viagem.

Anónimo disse...

Todos nós nos sentimo um pouco no cantinho das fadas quando acedemos aos seus sinais... Confesso que quando li este capítulo, digamos assim, foi como se tivesse voltado à Irlanda. De facto, eu revisitei todos estes lugares e descobri que a Marlene conseguiu ver neles o que me faltou ver na altura. Agora, que relembro o meu périplo por toda essa Irlanda das fadas, fico com uma sensação de que afinal não foi tão mau como eu imaginei ter vivido. Até isso, os seus sinais me trouxeram de bom.

Anónimo disse...

Olá mamã eu sou o Francisco. Sim foi a mim que a Marlene escreveu o texto e à minha irmã, mas voltando ao texto acho que o nome está bem dado. Acho que a história está bem escrita e que está bem fotografado. Do que eu mais gostei foi da àrvore que tinha um ramo no meio dos ramos.