segunda-feira, 21 de julho de 2008

Apontamento histórico

Irish Stew
½ portion neolithic
3p Gaelic clans
3p Christianity
2p Vikings
1p Normans
Let it marinate 4000 years. Add some English portions and stir it.

(Os ingredientes podem variar de porção consoante a cidade/região irlandesa onde se cozinhou esta receita.)

Contrariamente ao que se passa na maioria dos países europeus, que ao longo da sua história sofreram invasões diversas, às quais se foram sobrepondo influências, a Irlanda assimilou as variadas culturas aqui presentes. O desfecho é feliz: um povo com uma excepcional consciência de grupo, com costumes muito enraizados, que fazem parte do seu dia-a-dia. É muito interessante sentir que essas tradições tão antigas fazem efectivamente parte do presente e não se apresentam como obrigação de reconhecimento de um passado longínquo (como julgo que acontece em Portugal, em alguns casos).
A imaginação celta, que apela à criação de seres sobrenaturais e proliferação de lendas e mitos e a tradição oral deixam rastos nos muitos escritores irlandeses, génios de renome. A literatura irlandesa é sem dúvida património mundial: Jonathan Swift, Oscar Wilde, Bernard Shaw, Beckett, Joyce,WB Yeats, Roddy Doyle, Edna O’Brien...
Nesta receita as porções podem variar, mas os sabores celtas e cristãos imperam.


Acabei de confirmar que a tradição celta, que inclui preponderantemente a própria língua Gaelic, quase que foi abafada pela longa submissão inglesa. Foi no reinado de Isabel I que esse domínio se consolidou e, até ao início do séc. XX, os irlandeses foram afastados das suas raízes. Na escola repreendiam-se as crianças que falassem Gaelic, desencorajando-as a sustentar esse pilar da tradição oral. Em associações desportivas havia recrutamento de jovens para o exército britânico.
Foi em entre 1914-16 que a consciência nacional recomeça a levantar-se por iniciativa de Patrick Pearse e James Conrolly que se tornaram os líderes da chamada Easter Rising. Apelando ao sentido de grupo, recordando tradições quase esquecidas, entre elas o catolicismo, estes dirigentes conseguiram agitar a sociedade e, apesar dos oponentes que confortavelmente ganhavam dinheiro à conta da 1ª Guerra Mundial, ganharam seguidores até formar um batalhão de irlandeses voluntários. Assim começa a chegar ao fim a soberania Inglesa...
É neste ambiente que surgem nomes como o de James Joyce, WB Yeats ou Lady Gregory que recriaram toda a mítica dourada do passado celta em oposição à influência anglo-saxónica.
Yeats, poeta vencedor do Nobel para a literatura, quase que tem vergonha dos burgueses acomodados do início do século XX que, nas suas palavras, rezam e juntam dinheiro. (For men were born to pray and save:/ Romantic Ireland’s dead and gone/ It’s with O’Leary in the grave. 1913) esta sua opinião muda, em 1916, quando reconhece uma reviravolta na atitude irlandesa. (I have met them at close of day/ corning with vivid faces(...)All changed, changed utterly:/ a terrible beauty is born.)
Este sentimento ainda se ouve na música tradicional da Irlanda. A diáspora irlandesa paira...
(apenas um apontamento)

3 comentários:

Paulo disse...

Olá minha Celta. Estou a ver que continuas a apreciar o rochedo.
Primeiro pensei que estivesses a apresentar uma receita de um Cocktail..., mas afinal a mistura é outra e o resultado final parece positivo.
Não te esqueças que a influência céltica, além da literatura, está também presente na música e que eu estou a contar com uma explicação nessa área (e mais alguma coisa…), nem que seja em gaelic.

Até ao próximo sinal.

Anónimo disse...

Marlene, queria agradecer-lhe o facto de ter partilhado comigo os seus "sinais". Aos poucos fui regressando aos lugares da Irlanda que conheci. E é incrível... Hoje parece-me muito mais bonita e acolhedora. Talvez a maneira tão apaixonada como descreve aquilo que vê nos deixe mais perto do espaço. Se puder não deixe de ir a Dingle. É uma baía única na Europa.

Anónimo disse...

Marlene
Já foste ao café dos escritores na rua pedonal de Dublin ou Baile Átha Cliath, em gaélico? Depois te mostro como estou tão poliglota.
Isabel